quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Vazio de Poder

Este blog foi originalmente concebido para ser um esforço de reflexão sobre o vazio de poder que existe em Portugal. Independentemente do saldo ser positivo ou negativo, uma coisa é certa, hoje não há dúvidas que o vazio existe. Ninguém manda neste país. Não há responsáveis. Os políticos limitam-se a seguir estratégias de marketing e governam apenas com critérios de popularidade. Esta crítica vale para todos os partidos sem excepções. Exercer o poder, implica assumir responsabilidades, tomar decisões, apontar um caminho. Nada disso tem sido feito e as mudanças vão acontecer a bem ou a mal porque a situação é crítica a todos os níveis. Por isso, mais do que promover a alternância democrática e a discussão partidária, é obrigatório exigir que todas as pessoas, independentemente dos partidos a que pertençam, se juntem e adoptem estratégias de médio e longo prazo, que serão duras no curto prazo mas que são a única forma de salvar a democracia e a liberdade. Já não existem muitas alternativas, já não faz sentido discutir ideais, já não faz sentido dividir opiniões, o caminho já é demasiado estreito. E também já não temos tempo para continuar à procura das pessoas certas. Tem de ser esta geração, no seu conjunto, a promover a mudança. É preciso substituir os ministérios por um conjunto de pessoas com capacidade de formular estratégias e obrigar o governo e o parlamento a implementa-las. E para isso é necessário convencer a opinião pública que já não há opção. É necessário formar associações, grupos, fóruns de activistas e fazer manifestações de protesto e de esclarecimento. É necessário passar a palavra e convencer familiares, amigos, desconhecidos a juntarem-se a esta causa que é de todos. Se abdicarmos de tomar as rédeas do nosso próprio destino, ficamos condenados a ser governados por um ditador qualquer que apareça no futuro próximo a dar esperança a um povo com medo. E acho que ninguém quer que isso aconteça.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Portugal em Balanço

Com 2009 quase a acabar, mais do que fazer um balanço anual, faz sentido fazer uma análise mais alargada porque acaba também um ciclo de três décadas de grande desenvolvimento e bem-estar em Portugal. Durante este período o dinheiro nunca faltou. Beneficiámos da generosidade europeia, juros baixos, acesso facilitado ao crédito e petróleo quase sempre barato. E com tudo isso desenvolvemos um estilo de vida sofisticado, em que muitas pessoas vivem com um conforto acima da média europeia e quase todas acima da média mundial. Dizem que o dinheiro não traz felicidade mas a verdade é que ajuda bastante. Ganhámos hábitos de ricos e perdemos a noção da realidade. Ainda pior, destruímos as bases que poderiam ajudar-nos a ultrapassar os obstáculos que se avizinham. Em particular a educação, o que para um país parco em recursos naturais, deveria ser o bem mais valioso. Mas há o outro lado da moeda. Hoje em dia temos mais estradas, pontes, hospitais, escolas, carros, casas, helicópteros, tecnologia, centros comerciais, estádios, cultura, acesso à informação, acesso a viagens, e tantas outras coisas em que se gasta dinheiro e que nos fazem sentir melhor, pelo menos algumas. Está na natureza das pessoas adaptarem-se às circunstâncias e como é óbvio isso irá suceder. O que me assusta é que da mesma maneira que levámos três décadas a chegar até aqui, também precisaríamos do mesmo tempo para retroceder. Mas aqui é que está a grande injustiça. Será uma sorte se tivermos três anos para nos habituarmos à nova realidade. O mais complicado será na minha opinião a parte psicológica. Em determinado momento haverá um click na cabeça das pessoas e cada uma reagirá à sua maneira. Talvez haja revolta, talvez aconteça uma reacção positiva e imediata, ou quem sabe se não se caiará numa melancolia conformada. Só o tempo o dirá porque nem a história poderá ajudar a prever visto que o mundo nunca teve este nível de globalização e essa variável será determinante para enfatizar e prolongar os maus momentos. Colocar os pés no chão e olhar para a realidade é o desafio que se coloca para 2010 e para os anos que se seguem. Veremos se estaremos à altura das circunstâncias.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal

Nesta época festiva vou dar uma pequena trégua aos políticos e ao governo. Estamos em época de abrir excepções e neste Natal espero que sejam todos felizes. Fiquei particularmente feliz por ter notícias de uma pessoa que me diz muito mas com quem infelizmente não falo no dia a dia. Acho que essa é a grande magia do Natal. Como o meu guru de Machu Pichu costumava dizer, a vida só faz sentido quando se perde tempo com aqueles que gostamos. Muitos presentes, muitas guloseimas, boas viagens e bom trabalho para quem como está um bocado ensonado como eu...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cabeça na Areia I

Terei ouvido bem ou o PM disse ontem no parlamento que está a resolver problema do endividamento com a aposta nas energias renováveis? Devo estar com problemas de audição, ou isso, ou o PM está completamente à deriva, ou é tão estúpido que não percebe que está a falar de duas coisas de proporções completamente diferentes. Será que ele não se deu conta que este ano pagou (pagámos todos!) 5 mil milhões de euro de juros mesmo com as taxas de juro actuais, que estão baixíssimas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Prenda de Natal

A Caixa, leia-se o estado, vendeu 40,9 milhões de euros em acções da Zon à Isabel dos Santos e 370,9 milhões de euros em acções da Cimpor a uma empresa brasileira. São cerca de 412 milhões de euros de prenda de Natal que representam 0.25% do PIB e que provavelmente vão ajudar a ajustar o deficit para o valor pretendido pelo governo. É o costume: receitas extraordinárias para esconder a trapalhada em que estamos metidos.

Hospitais Públicos

Ter um filho internado num hospital representa uma situação de total vulnerabilidade e em que qualquer pessoa suplica que o sistema de saúde público funcione. Se existe um bom motivo para pagar impostos este é um deles. A minha experiência felizmente está a ser globalmente positiva, embora não saiba como seria sem a intervênção de médicos amigos que intercederam no meu caso particular. Mesmo assim, há tanta coisa que funciona mal. Com pouco dinheiro poderiam ser resolvidas tantas complicações, tantos entraves a uma actuação eficente dos médicos. Por outro lado constato que também há muitas coisas boas no sistema de saúde. E tenho medo que no futuro os cortes orçamentais inevitáveis a todos os níveis, destruam o que há de bom na saúde em Portugal.
No outro dia, um grande amigo dizia que não podemos ter um atitude péssimista como tem o Medina Carreira, que não podemos mostrar verdade toda para evitar cairmos numa depressão colectiva. Que temos de nos orgulhar de ter a menor taxa de mortalidade infantil do mundo. Concordo. Mas até quando? É porque tudo o que há de bom no sistema de saúde custa dinheiro, e até quando é que vamos ter esse dinheiro? Depois desta minha experiência pessoal vou lutar com todas as minhas forças contra todos os palhaços deste país, como descreve de forma corajosa o Mario Crespo na sua crónica.
Porque estamos a deixar com o nosso conformismo que esta gentalha, como diz o Medina, destrua aquilo que é mais importante, a saúde, a educação, a justiça. Quando tivermos sufocados em juros a pagar os TGV's e autoestradas e os lucros descomunais de uma dezena de empresas protegidas pelo estado, já vai ser tarde de mais. A altura de agir é agora! Em Portugal mais que o aquecimento global, temos à perna a corrupção global que vai levar a um extremar das desigualdades sociais ao nível dos países do terceiro mundo. Chega de paninhos quentes, está na hora de encarar a realidade de frente, custe o que custar!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

3º Trimestre

No 3º Trimestre de 2010 Portugal cresceu mais 0,5% que a União Europeia. Será motivo para festejar ou para ter medo? Quanto será que isto nos vai custar nos próximos anos. Não tenho ilusões, quem nos governa fará tudo o que estiver ao seu alcance para esconder o real estado de coisas. Por isso mais vale festejar agora porque mais cedo ou mais tarde vem aí a realidade.